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Do Pó ao Pó, 2009 | 7' 45" 

“A eternidade das coisas deve assombrar nossa ínfima duração.”

Pascal

Um tratamento imagético da transitoriedade é o que propõe Jeane Terra com Do pó ao pó. Ou, nas palavras da artista, uma reflexão sobre nosso pequeno intervalo de não pó . A matéria inerte, irredutível e inclassificável, é aqui elevada à dignidade dos matizes e suas circunvoluções. Nesse balé, a natureza parece convidar-nos a compartilhar sua pulsação, a escutar sua prosódia, a entrever seu segredo. Segredo intervalar da existência, que se realiza no ínfimo, no mínimo e no quase-nada. Não pó – com esse conceito a artista rebatiza a própria vida, pois eis ali onde se dá uma experiência que parece querer roubar do tempo a eternidade que o desejo aspira. Desejo transmutado em sopro, que varre o pó de nossas retinas, revelando-nos o retrato que já estava lá, esculpido na argila da memória. A artista não por acaso elege o mármore, aqui esprovido de sua soberania michelângela e reconduzido à sua indeterminação, à sua condição germinal de pó. Como lembrara Lyotard, uma matéria assim aludida é algo que não tem uma finalidade atribuída, que não está destinada e que, em tais condições, torna-se veículo de expressão da contingência da imagem, do ocaso das formas, da transfiguração dos arranjos sensíveis. Essa matéria sem fim, que não escapa em seu lirismo e sua sutileza às atentas lentes da artista, nos é então restituída, devolvida num silencioso... retornarás.

O tempo e o vento. Pincel e formão dessa veríssima e suave sonata da Terra.

Guilherme Massara Rocha

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