Paisagem no Vazio, 2009 | 16' 42"
Pela palavra, que já é uma presença feita de ausência, a ausência mesma
vem se nomear em um momento original.
Jacques Lacan, 1953.
Como deduzir a forma do vazio? Quais contornos se podem discernir naquilo que falta sem, contudo, inexistir?
Jeane Terra apresenta, nesse trabalho, um balé aquático coreografado, como diria François Regnault, em torno do vazio. A forma lúdica, calcada num jogo de presença/ausência, toma de empréstimo ao meio aquático as sutilezas que se desenham na passagem de um campo ao outro. A água deixa entrever, por fugazes instantes, a fisionomia do vazio, por detrás da qual se insinuam formas fantasmagóricas. E sob a assombrosa indeterminação da fisionomia própria ao desejo, mergulha-se novamente. Mergulhos no Outro elemento, onde uma aparência se evidencia. Flutua-se ali, onde há paz e deleite. Mas onde, não menos, corre-se o risco de afogamento. A pergunta, essencial, é encenada sutilmente: por que uns nadam onde outros se afogam?
Pouco a pouco, os intervalos entre os mergulhos se alongam. Água contra água, letras, signos e sinais que as gotas escrevem na tela de cristal líquido. Mesmo que todas as imagens se turvem, ainda assim se pode ler. Ler o vazio, reconhecendo em seu vórtice, e no nome de uma ausência, a presença mais perene.
Guilherme Massara Rocha